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domingo, 6 de março de 2016

JESUS, AMOR & FÉ - 49. JESUS, O JULGAMENTO DO JUSTO POR PECADORES

JESUS, AMOR & FÉ *

49. JESUS, O JULGAMENTO DO JUSTO POR PECADORES

“Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades e carregou com nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado ferido por Deus e humilhado. Mas, foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades, o castigo que nos salva pesou sobre ele, fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual o nosso caminho, o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se, não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiados. Ele não abriu a boca… “ (Is. 53: 4-7)
Nada impressiona mais a uma pessoa amante da justiça do que o julgamento injusto recebido por Jesus, tendo em vista seus milagres e o grandioso bem que espalhara entre as pessoas necessitadas e sofridas que encontrou por seu caminho. O julgamento de Jesus nos obriga a uma profunda reflexão, pois nos faz pensar que nessa vida não vale a pena ser justo e nem bom com outras pessoas, pois se o formos acabaremos como um cordeiro sendo levado para o matadouro, ou como um bode expiatório indo para o sacrifício, para que a sordidez humana no mundo permaneça e continue sendo sempre a mesma. 
É a sentença deste julgamento injusto que faz muitos que gostariam de crer em Jesus e em suas palavras se afastarem de sua imagem estigmatizada de sofrimento. Ora, desde o tempo deste acontecimento até os dias de hoje, um número incontável de pessoas foram torturadas e mortas com as maneiras mais brutais que possam ser concebidas pela tortuosa e maléfica mente humana, que faz da morte de outro ser vivo um prazer de luxúria para si mesmo. Se isso é demoníaco? Sem dúvida que é demoníaco. Tibério César, então Imperador Romano no tempo da morte de Jesus e que era de origem germânica, tinha tamanho desgosto com o comportamento malévolo humano que mandou construir em sua ilha de Capri um verdadeiro Inferno torturante reservado para os seus mais sórdidos inimigos e criminosos. O que era praticado ali é simplesmente inenarrável, em tudo horrível, e creio que nem o deus Plutão dos Infernos seria capaz de conceber tanto sofrimento. Portanto naqueles tempos, assim como nos tempos de hoje, a vileza humana e a tendência ao mal parece não ter desaparecido, pode ter mudado suas formas, mas continua mesma. Alguém poderá me dizer que então a morte de Jesus foi inútil, eu responderei: NÃO, NÃO FOI!
SE JESUS TENDO SE MANIFESTADO E MOSTRANDO A VERDADE O MUNDO É ASSIM, IMAGINEM SE ELE NÃO NOS TIVESSE DADO A CONHECER-SE? ORA, SE O MUNDO É ASSIM COM DEUS, IMAGINEM VIVER NUM MUNDO SEM DEUS!
Para compreendermos o que acontece com Jesus doravante é preciso que tenhamos em mente que ele está cumprindo exatamente o que foi dito pelos profetas judeus sobre ele, ou seja, sobre o Messias salvador. Do mesmo modo que Oséias, filho de Num, da tribo de Benjamim, foi nomeado por Moisés como Josué (Num. 13: 8,9 e 16) que também se grafa Jesus, em hebraicoYeshua, que quer dizer “Deus Salva” ou “Salvação de Deus”, e foi ele o eleito para conduzir o povo judeu à Terra Prometida, cumprindo assim a promessa feita ao patriarca Abraão, o mesmo se dá com Jesus, que fora enviado para conduzir o povo judeu, que se dizia o único “povo escolhido” de Deus e fiel a Deus e ao chamado Reino de Deus, pois Deus conduzira os judeus pelo deserto até conquistarem a desejada riqueza material, agora Deus tinha o novo propósito de conduzir o povo judeu à desejada riqueza espiritual da sabedoria celeste. Porém, infelizmente, para que os judeus recebessem este conhecimento era necessário impressioná-los de uma forma dramática, pois a mente humana grava mais em sua memória o que lhe choca e é dramático e mórbido do que qualquer beleza que possa elevar a sua alma, sendo que a atração pelas trevas e o que é sombrio é maior do que pela luz, cuja claridade pode cegar tanto quanto a escuridão. 
O propósito de Jesus, na verdade de Deus que nele estava, era criar um evento de tal forma dramático que não fosse esquecido pela mente humana jamais. O que nós podemos dizer quase dois mil anos depois que realmente esse objetivo foi alcançado. E, apesar de fortes campanhas para derrubar a crença em Jesus, ela se sustenta até hoje de maneira formidável reunindo milhões de pessoas que  crêem em sua doutrina e na fé que Jesus exaltou. Isso por si só dá veracidade não só à pessoa de Jesus, mas, sobretudo, glorifica à Deus, nosso Pai misericordioso.
Naquela madrugada do sexto dia da semana, o décimo terceiro dia do mês de Nissan, primeiro mês do ano judaico, Jesus foi levado para o átrio da residência do sumo-sacerdote Caifás, que fora indicado ao cargo pelos romanos, onde o Conselho sacerdotal aguardava que desta feita a prisão de Jesus tivesse o desejado sucesso. Lá se encontravam vários sacerdotes e entre eles também estava Nicodemus, aquele que se encontrara em segredo em Cafarnaum, na Galiléia, a quem Jesus pedira para preparar um local para a ceia que queria ter com seus discípulos, a qual foi arranjada na casa de José de Arimatéia. Se não fosse por Nicodemus jamais se saberia o que acontecera na casa do sumo-sacerdote que era vizinha ao Templo em razão da alta dignidade que lhe era dada, como supremo zelador do Templo.
Pedro tinha seguido de longe a guarda que levara Jesus preso até a casa de Caifás, entrou na casa e juntou-se aos criados no pátio externo, onde os servos do sumo-sacerdote cuidavam de assar os cordeiros do sacrifício pascal que seria comido pelos sacerdotes do Templo. Pedro então sentou-se junto com eles desejoso de saber como terminaria aquilo. 
Lá dentro, foi com satisfação que Caifás viu que a conspiração desta vez resultara em sucesso, e os guardas trouxeram Jesus e o colocaram à sua frente em meio aos conselho de sacerdote e anciãos. Os membros do Conselho estavam ali para a santa assembléia (Sinédrio) conforme a Lei estabelecida por Deus para a Páscoa (Êx. 12: 16), portanto não estava ali para aquele julgamento inesperado de Jesus, muitos de seus membros tinham também sido pegos de surpresa, como acontecera com Nicodemus. Por ordem de Caifás, os fariseus buscavam de todas maneiras um falso testemunho que permitisse condenar Jesus à morte. Por fim, apresentaram-se duas testemunhas que disseram:
- Esse homem disse: Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.
Ora, era um crime proferir blasfêmias contra o Templo, um crime punido com a morte. Mas, Jesus dissera destruir este templo de Deus, referindo-se ao seu próprio corpo, e o reedificarei em três dias. (Jo. 2:19) 
Levantou-se Caifás, o sumo-sacerdote de sua cadeira, e aproximando-se mais de Jesus para olhar em sua face, perguntou-lhe:
- Nada tens a responder a essa gente que depõe contra ti?
Jesus, contudo, permaneceu calado.
Disse-lhe exasperado Caifás:
- Por Deus vivo, conjuro-te que nos diga: se és o Messias, o Filho de Deus!
Então Jesus que até então permanecera calado respondeu olhando nos olhos de Caifás:
- Sim. Além disso eu vos declaro que verei doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-Poderoso e voltar sobre as nuvens do céu.
Inesperadamente parecia que Caifás ao ouvir a resposta de Jesus fora tomado de profundo terror e tomava Jesus por um anjo feérico vindo diretamente do céu. E possuído de alguma estranha loucura começou a rasgar suas vestes, como era o costume se fazer em atitudes de lamentação e de expiação, e gritava de forma controversa como se querendo livrar de alguma maldição que lhe caíra em cima:
- Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia! Qual é o vosso parecer? Digam logo e tirem esse homem daqui!!!
Os fariseus que ali estavam ávidos para condenarem Jesus, berraram extasiados:
- Merece a morte!!!
E como demônios cercaram Jesus cuspiram em sua face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas dizendo:
- Adivinha, ó Messias, quem lhe bateu?
Enquanto isso no pátio dos servos, uma das servas que ali estava se aproximou de Pedro e perguntou-lhe:
- Também tu estavas com Jesus, o Galileu?
Mas Pedro respondeu, negando o que ela falava:
- Não sei o que dizes.
Então, resolveu se dirigir ao portão de saída antes que fosse reconhecido, quando outra criada apontou para ele e disse:
- Este homem também estava com Jesus de Nazaré!
E aqueles que estavam ali levantaram-se e aproximaram-se de Pedro, para vê-lo melhor, e disseram:
- Sim, tu és daqueles que o seguiam, seu modo de falar te dá a conhecer. Tu és um galileu também.
Pedro, então, começou a gritar imprecauções, jurando que nem sequer conhecia aquele homem. Exatamente, naquele momento cantou o galo. E, Pedro recordou o que Jesus lhe dissera durante a ceia: “Antes que o galo cante, negar0me-á três vezes.” E Pedro adiu correndo fugindo, e chorou amargamente, arrependido de sua atitude covarde. (Mt. 26; 57-75; 14;53-72; 22:54-71 e Jo 18:13-25)
A primeira hora da manhã chegara (seis horas da manhã) e o Sinédrio, cuja maioria dos conselheiros temiam que Jesus como líder religioso pudesse vir a negar-lhes a própria legitimidade que tinham de governa o povo judeu, incitando uma tabelião contra a ocupação romana que dava-lhes o poder, decidiram que tinham que acusar Jesus não por uma violação da lei judaica, como blasfêmia contra o Templo ou coisa no gênero, cuja penalidade seria a morte, isso porque os romanos simplesmente não aplicavam a pena de morte por violação da lei judáica, apenas em caso de violação da lei romana. Deste modo a acusação de blasfêmia não moveria o governante indicado pelo imperador Tibério, a condená-lo a pena de morte. A argumentação legal, então, colocada por Caifás foi que Jesus não apenas era culpado de blasfemar contra o Templo, mas por ter se proclamado o Messias, como o rei davídico dos judeus, um ato de sedição, que era punido com a execução pela lei romana. 
Ora, como sabemos o trono da Judéia estava vago e era muito ambicionado por Herodes Antipas, que também estava no Palácio de Herodes, onde morava o governador Poncio Pilatos, para os festejos da Páscoa, arquitetava assim Caifás provocar a ira de Herodes Antipas e influenciasse assim, Pilatos em sua decisão. De modo que, muitos que apoiaram Caifás nessa trama não apenas eram fariseus como também secretamente partidários do movimento zelote liderado por Beit Shammai, de forma que a morte de Jesus abriria o campo para a insurgência com uma execução injusta por parte dos romanos. Apesar desta trama conspiratória, o plano não estava consagrado desde o princípio ao sucesso. havia uma chance que viesse a dar errado, e Jesus saísse inocentado de toda a situação, o que seria o fim para o sumo-sacerdote Caifás.
Logo ao início da manhã, sacerdotes a mando de Caifás acompanhados de guardas do Templo, ataram Jesus novamente e saíram na direção do Palácio de Herodes que ficava ao lado do Templo, o segundo edifício mais importante de Jerusalém após o Templo. Abrindo um parênteses, curiosamente no dia 5 de janeiro de 2015, foi anunciado pelo arqueólogo judeu Amit Re’em após 10 ano de escavações o encontro do pátio onde Jesus ficou prisioneiro na prisão do palácio e o possível local onde se deu o julgamento, que seria próximo a um dos portões do Palácio de Herodes, que foi incendiado em 66 a.C. pelos próprios judeus durante uma rebelião contra os romanos. 
Retornando ao julgamento, Jesus foi levado a Pilatos, mas os seus acusadores judeus não entraram no pretório da residência oficial do governador romano no palácio de Herodes, local em que se dava os julgamentos e as sentenças eram distribuídas, para não se contaminarem, contraindo a imundice legal de um edifício pagão, e assim poderem comer a Páscoa a hora do crepúsculo. Ficarão os judeus ao portão, e empurraram Jesus para dentro, sem se importarem que ele se contaminasse. Saiu Pilatos para ter com eles e postou-se próximo a Jesus, de quem muito já tinha ouvido falar, já que sua esposa Cláudia *(ou Procla segundo Docs. Apócrifos. III: 3 - Cartas de Pilatos a Herodes) era seguidora secreta de Jesus e tivera sonhos terríveis sobre a condenação de Jesus à crucificação, implorando ao marido que não o condenasse. Ora naturalmente, Pilatos fora também pego de surpresa quando os sacerdotes do Templo trouxeram Jesus atado como um criminoso para ele julgar, tal como sua esposa o tinha avisado. Logo Pilatos foi perguntando aos fariseus, apontando para Jesus:
- Que acusações trazeis contra este homem?
Responderam-lhe alguns dos sacerdotes:
- Se este não fosse um malfeitor, nós não o traríamos a vós.
Disse-lhes Pilatos querendo se livrar da responsabilidade do julgamento:
- Tomai-o e julgai-o vós mesmos, segundo a vossa Lei.
Responderam-lhe os judeus:
- Não nos é permitido matar a ninguém.
E puseram-se a acusar Jesus, dizendo:
- Temos encontrado este homem excitando o povo à revolta, proibindo pagar impostos ao Imperador e dizendo-se o Messias e Rei dos Judeus.
Pilatos entrou no pretório e chamou Jesus e perguntou-lhe:
- És tu o Rei dos Judeus?
Jesus respondeu ao governador romano:
- Dizes isto por ti mesmo, ou foram os outros que disseram de mim?
Disse Pilatos:
- Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
Respondeu-lhe Jesus:
- “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado, para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino não deste mundo.
Perguntou-lhe então Pilatos:
- És portanto rei ?
Respondeu Jesus:
- Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade, ouve a minha voz.
Disse-lhe Pilatos:
- Que é a verdade?…
Falando isso saiu de novo para falar com os sacerdotes, e declarou-lhes:
- Eu não acho neste homem crime ou coisa alguma para julgá-lo.
Mas os sacerdotes e fariseus insistiram fortemente dizendo:
- Ele revoluciona o povo ensinando por toda Judéia , a começar da Galiléia até aqui.
A estas palavras Pilatos perguntou se ele era galileu, e quando confirmaram que Jesus era da jurisdição de Herodes, viu Pilatos mais uma oportunidade de se livrar do fardo daquele julgamento que poderia lhe trazer péssima sorte como bem avisara-lhe sua esposa. E, assim, enviou Jesus para a outra ala do Palácio, onde Herodes ficava hospedado quando estava em Jerusalém. E parte da manhã já passara quando os sacerdotes e fariseus levaram Jesus à frente de Herodes, o tetrarca da Galiléia que condenara a João Batista, e que tanto desejara conhecer Jesus, que tinha curado o filho do seu mordomo, e cuja esposa Suzana era discípula em segredo de Jesus, e não cansava de falar dos maravilhosos milagres que Jesus fazia aos ouvidos do marido, que pedira a Jesus para curar seu filho.
Herodes alegrou-se por ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido falar dele muitas coisas, e esperava presenciar algum milagre operado por ele. Herodes fez muita pergunta a Jesus, mas Jesus nada respondeu. Ali estavam os sacerdotes a lançarem acusações contra Jesus e Herodes de modo nenhum queria se indispor com eles. Herodes viu por bem tratar Jesus com desprezo, e mandou o seus guardas revestirem Jesus com uma túnica branca, retirando suas vestes originais, e dando-lhe um manto purpura apenas usado pelos romanos e a nobreza judia, pois o material usado para tingir os tecidos de vermelho era muito caro, de modo que era uma cor só usada pela elite e não pelo povo. Herodes fez isso, para desafiar Pilatos com quem estava brigado, para obrigá-lo a fazer o julgamento, pois dera a Jesus roupas dignas de um rei judeu. E ordenou que os sacerdotes levassem Jesus novamente a Pilatos, e os sacerdotes se admiraram da astúcia de Herodes Antipas, e foram pelo caminho se congratulando que agora Pilatos seria obrigado a condenar Jesus à morte por sedição. Mas, quando chegaram à frente de Pilatos novamente no pretório, e disseram-lhe que Herodes tinha devolvido o Jesus para ser julgado por ele, a teimosia daqueles em condenarem o homem chamado Jesus, o irritara por demais, disse-lhes Pilatos:
- Apresentaste-me este homem como agitador do povo, mas interrogando-o não o achei culpado de nenhum dos crimes de que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois ele o devolveu para mim; portanto ele nada fez para que mereça a morte. Por isso soltá-lo-ei depois de o castigar.
Então, Pilatos chamou os seus guardas e ordenou que levassem Jesus para ser flagelado segundo o castigo de chibatas com pontas de ferro, com a ordem que depois o soltassem. Assim o fizeram os soldados romanos, que surraram Jesus e depois colocaram uma coroa de espinhos na cabeça e recolocaram suas roupas e o manto púrpura nas costas, e diziam com zombaria: “Salve o Rei dos Judeus!!!!” Eles já estavam prestes a soltar Jesus quando o vozerio do populacho se fez ouvir gritar nas ruas.
- SOLTEM BARRABÁS!!!! SOLTEM BARRABÁS!!! CRUCIFIQUEM JESUS!!! CRUCIFIQUEM JESUS!!!
Assim o faziam, porque a cada festa era costume que um preso judeu fosse solto pelo governante romano.
Ora, os sacerdotes e fariseus tinham ficado enlouquecidos por serem frustrados em seu plano de matarem Jesus. Sendo, já pela terceira hora *(nove da manhã), a notícia da prisão de Jesus se espalhara e todos os que o seguiam antes correram para se esconderem de medo de também serem presos, assim nas ruas só estava o povaréu miúdo de Jerusalém, que não sabia lá muito bem quem era Jesus. De modo que foi fácil assim para os ardilosos sacerdotes e fariseus organizarem uma manifestação popular na frente da residência de Pilatos clamando pela soltura de um outro prisioneiro, o zelote Barrabás, que naqueles dias tinha sido preso devido a uma revolta levantada na cidade seguido de homicídio e esperava o cumprimento da sua sentença de morte.
pilatos saiu no pórtico para falar com a multidão e disse-lhes:
- Eis que vou mandar trazer aqui fora, mas saibam que não encontrei nele nenhum motivo de acusação para que seja crucificado.
Então, os guardas de Pilatos trouxeram Jesus, com uma coroa de espinhos na cabeça, as vestes brancas respingadas de sangue e o manto púrpura nos ombros. Mas, quem poderia reconhecer o altivo Rabi que entrara no Templo e chicoteara os comerciantes das coisas sagradas, que veria nele o homem que parecia um rei sentado no seu corcel mesmo que fosse um jumentinho novo, quem diria que aquele homem com a face coberta de sangue que escorria dos espinhos cravados em sua testa pudesse ser a imagem angelical que salvara a tantos e trouxera outros à vida. Quem poderia reconhecer naquela massa disforme de carne com os olhos pairando em órbitas vazias como um animal sacrificado fosse o Messias!!!! Ninguém o reconheceria como sendo o Filho do Homem, o Filho de Deus, aquele que ali estava não passava de um pobre infeliz, perseguido pela sorte, abandonado da graça de Deus, um infeliz desgraçado igual a qualquer um que se rastejava nas ruas de Jerusalém implorando por comida e misericórdia. Era como um leproso coberto de chagas, de quem todos fugiriam e não iam por ele querer ser tocado.
Em seu silêncio Jesus contemplava o povo que se horrorizava com a sua aparência exterior e não podia lhe ver a alma, mas de sua boca um leve murmurar saia:
-“ Quem é aquele que vem… com as vestes tintas, envolvido num traje magnífico altaneiro na plenitude de sua força? Sou eu que luto pela justiça e sou poderoso para salvar. Por que, pois, tuas roupas estão vermelhas com as vestimentas daquele que pisa o lagar? Eu pisei sozinho o lagar e ninguém dentre os povos me auxiliou. Então eu calquei com cólera, esmaguei-os com fúria, o sangue deles respingou sobre o meu vestuário manchei todas as minhas roupas. É que eu desejava um dia de vingança, e o ano da redenção dos meus havia chegado. Olhei então, e não houve pessoa alguma para me ajudar; então apelei para o meu braço e achei forças na minha indignação. Por isso na minha cólera arrasei os povos, na minha fúria triturei-os, fazendo correr seu sangue pela terra.” (Is. 63: 1-6)
Sim, lá estava ele o Deus dos judeus tratado como o mais miserável e mais desprezível dos homens, pagando por pecados que em nenhum momento cometera, atraindo para si todos os pecados da Humanidade, para que aqueles que o viam soubessem e aprendessem sobre o que o pecado é capaz fazer ao corpo, como o pecado poderia destruir aquele templo dado por Deus... Todavia, apesar dos pecados humanos cobrirem seu corpo, eles não podiam tocar de maneira alguma o Espírito Santo de Deus que nele habitava. E se por fora Jesus parecia o mais miserável dos seres humanos, por dentro era ele o mais glorioso e luminoso de todos os seres viventes.
Apontando para Jesus, Pilatos disse aos sacerdotes, fariseus, seus guardas e a multidão que haviam juntado com eles e disse-lhes:
- Eis o homem!
Quando os judeus o viram começaram a gritar:
- Crucifica-o! Crucifica-o!
Falou-lhes Pilatos:
- Tomai-o vós e crucificai-o, pois eu não acho culpa alguma nele.
Responderam-lhe os judeus:
- Nós temos uma Lei, e segundo esta Lei ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus.
Estas palavras impressionaram Pilatos, e entrou novamente com Jesus no pretório e perguntou-lhe:
- Donde és tu?
Mas Jesus não respondeu.
Pilatos então lhe disse:
Tu não me respondes? Não sabes que eu tenho poder para te soltar e para te crucificar?
Respondeu Jesus:
- Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso quem me entregou a ti tem pecado maior.
Ao ouvir isso de Jesus, Pilatos fiou andando de um lado para outro procurando uma forma de soltá-lo. No pórtico os sacerdotes gritavam para Pilatos ouvir:
- Se o soltares, não és amigo do Imperador, porque todo que se faz rei, se declara contra o Imperador.
Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Lajeado, pois era pavimentado de lajes, e Pilatos disse aos judeus:
- Eis o vosso rei!
Mas eles clamavam:
- Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o! Solte-nos Barrabás!
Pilatos replicou pela segunda vez:
- Mas que mal fez ele?
Eles clamavam mais ainda:
- Crucifica-o! Crucifica-o!
Pilatos perguntou-lhes:
- Hei de crucificar o vosso rei?
Os sacerdotes responderam:
- Não temos outro rei senão César!
Pilatos viu que nada adiantava, mas que ao contrário, o tumulto crescia, como se aquela gente estivesse enlouquecida e fora do controle de si. Fez com que lhe trouxessem água, e lavou as mão diante do povo e disse:
- Sou inocente do sangue deste homem, Isto é lá convosco!
E todo o povo que ali estava naquele julgamento respondeu:
- Caia sobre nós o seu sangue e sobre os nossos filhos!
Pilatos entregou então Jesus a vontade deles para que fosse crucificado. E soltou-lhes o que eles reclamavam que tinha sido lançado ao cárcere. (Jo. 19; Lc. 23 e Mt 27)
Talvez se fosse possível àqueles cegos que ali estavam verem o que os olhos não podem enxergar e só alma pode ver, reconheceriam uma a poderosa luz que naqueles olhos faiscava entre as gotas de sangue e veriam o sorriso de escárnio e desprezo lançado àqueles que se faziam de justiceiros sem justiça nenhuma. Ah! Se pudessem ler o pensamento de Deus que ali refulgia como o sol próximo ao seu apogeu no céu e entendessem a razão das gotas do seu sangue que caiam ao chão e a terra bebia, pois de todas as palavras proféticas as mais importantes já se cumpriam:
“ Pasmai-vos e maravilhai-vos, obstinai-vos feridos de cegueira. Embriagai-vos, mas não de vinho, cambaleai, mas não por causa da bebida. Porque o Senhor espalhou sobre vós o espírito de torpor, fechou vossos olhos e ocultou vossa inteligência.
A revelação de todos estes acontecimentos permanecem para vós como texto de um livro selado. Quando oferecem a um letrado, pedindo-lhe que o leia, ele responde: ‘Não posso ele está selado”; se o oferecem a um iletrado, pedindo que o leia, ele responde: ‘Não sei ler’. (Is. 29: 9:12)
NAO CHAMEIS CONSPIRAÇÃO TUDO AQUILO QUE O POVO CHAMA DE CONSPIRAÇÃO; NÃO VOS ASSUSTEIS. É O SENHOR QUE DEVEIS TER POR CONSPIRADOR; É ELE QUE É PRECISO RESPEITAR, A ELE SE DEVE TEMER.
ELE SERÁ A PEDRA DE ESCÂNDALO E A PEDRA DE TROPEÇO PARA AS DUAS CASAS DE ISRAEL, O LAÇO DE CILADA PARA OS HABITANTES DE JERUSALÉM. MUITOS DENTRE ELES VACILARÃO, CAIRÃO E SERÃO DESPEDAÇADOS, SERÃO PRESOS A LAÇO E CAIRÃO NA ARMADILHA.
Eu vou recolher essa declaração e a selar para os meus discípulos. Terei confiança no Senhor que se esconde da casa de Jacó e esperarei nele. (…) Não haverá aurora para aqueles não aceitam a Lei e o Testemunho (da Verdade). Andarão errantes pela terra, fatigados e esfomeados. Atormentados pela fome, agastar-se-ão e amaldiçoarão seu rei *(o Messias) e o seu Deus. Levantarão seus olhos, depois olharão para a terra e só verão misérias, escuridão e trevas angustiantes. Repetir-se-ão dentro da noite, pois não há trevas onde há angústia?” (Is. 8:12-23)
Alguns estudiosos do Jesus histórico se escandalizam com a possibilidade de Jesus ter tramado a própria morte, ficam assim pois em seu julgamento mundano segundo a ética humana isso seria um suicídio, um pecado contra a própria vida. Pensam assim, pois não acreditam que Jesus era o avatar de Deus, a própria Face de Deus na condição humana. Ora Jesus disse: ”Eu tenho poder de tirar a minha vida e a fazer retornar a mim.” Logo, Jesus é Deus, e sendo Deus é o Senhor da Vida, com poder de vida e morte sobre todos os seres vivos. Portanto, quem aqui lê esse relato deve considerar que não tratamos neste texto do Jesus “histórico” segundo a concepção restrita de sua condição humana, longe disso, o interesse presente é justamente demonstrar a divindade de Jesus, mais do que tudo revelar o imenso amor de Deus pela sua obra da criação, e sua especial compaixão e misericórdia pela condição humana, e seu profundo e imenso desejo inesgotável que o ser humano se erga de seu estado de condenado a escravidão do corpo para o novo estado de libertação e senhor do próprio corpo, do mesmo modo que ele o foi quando se manifestou em sua condição humana.
  • Da coletânea de crônicas diárias publicadas no meu  perfil do Facebook  de dezembro/2014 a abril/2015.

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